PROJETO GEBAKH

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS E LETRAS
PROJETO GEBAKH
GRUPO DE ESTUDOS BAKHTINIANOS
INTRODUÇÃO
O pensador russo, Mikhail Bakhtin (1895 – 1975), através de um grupo de estudiosos, que tem sido chamado de Círculo de Bakhtin, postulou um dos principais conceitos que marcaram a passagem do século XX para o XXI, nas ciências da linguagem, em particular, e nas ciências humanas, de maneira mais geral. Trata-se do princípio do DIALOGISMO, que postula a não existência de uma linguagem, seja como sistema, estrutura ou forma, per si e para si. A linguagem não existe per si, porque, como propõe Voloshinov (1926), ela é não auto-suficiente. Isto significa que não há, para o círculo bakhtiniano, um funcionamento lingüístico autônomo, independente de sujeitos, falantes e ouvintes, história, cultura e ideologia. A linguagem também não existe para si mesma. Ela não é autóctone, auto-evolutiva, cujos fins se esgotam nela mesma. 
Para Bakhtin e seu círculo, a linguagem está ligada intimamente à Enunciação, esse evento discursivo que envolve sujeitos, lugares, tempos e valores. Somente a partir desses elementos é possível se pensar em sentido, em significação.
Todas essas questões estão na “ordem do dia”, na “ordem discursiva” acadêmica e pedagógica atual, nos intrigando, nos provocando, nos intimando a pensar sobre o mundo e as sociedades que nele vivem, sobrevivendo, na maioria das vezes, a pestes, guerras, catástrofes, invasões (quase sempre bárbaras...). O homem, no entanto, mais que simplesmente um ser biológico, psicofisiológico, é um ser social, político e ideológico, cultural, que não se esgota em seu ser, não acaba em si, mas, ao contrário, começa no OUTRO, que (in)completa seu EU. Eis a base do pensamento bakhtiniano: a interação social entre um eu e um outro, o diálogo, o que nos constitui em corpo social, em grupo, e nos singulariza sócio-historicamente.
Assim como o círculo bakhtiniano, este projeto pretende criar um  grupo de estudos focado na linguagem enquanto lugar de interação social. Em sua singularidade, o grupo se propõe a estudar a obra de Bakhtin e dos membros do seu círculo, e também dos leitores-comentadores contemporâneos desse pensamento.
JUSTIFICATIVA
Há muitas justificativas que validam a existência desse grupo:
- o pensamento bakhtiniano e seu princípio dialógico têm norteado os estudos lingüísticos nos últimos trinta anos, no Brasil e no mundo ocidental (incluída aí a Rússia e o Leste Europeu);
- o conceito de Gêneros do Discurso (BAKHTIN, 2003) fundamenta as propostas presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de Língua Portuguesa, colocando o texto (enunciado concreto, no sentido bakhtiniano) como objeto de ensino, orientando os usos e reflexões sobre a língua;
- as questões relacionadas à interação social e ao discurso ganham cada vez mais espaço na academia, haja visto o crescente número de publicações e eventos nesta perspectiva;
- existem no Brasil vários grupos de estudos bakhtinianos, não só em lingüística, que discutem a obra bakhtiniana e têm, a partir dessa discussão, publicado trabalhos e promovido eventos nessa área. O que tem mais se destacado é o GEGe, da UFSCAR, coordenado pelo Prof. Dr. Valdemir Miotello, que realizou, em 2010, o III Círculo – Rodas de Conversa Bakhtiniana;
- desde 2006, o Departamento de Línguas e Letras e o Programa de Pós-Graduação em Linguística, através do Prof. Dr. Luciano Novaes Vidon, tem orientado dissertações de mestrado e trabalhos de iniciação científica com base na teoria bakhtiniana, investindo nas relações entre a linguagem e os sujeitos que a usam em um processo de mútua constituição. Atualmente o prof. Vidon orienta uma dissertação de mestrado, quatro trabalhos de iniciação científica (dois deles com bolsa) e dois trabalhos de conclusão de curso.
INTERDISCIPLINARIDADE
É interesse do grupo trabalhar em uma perspectiva interdisciplinar. Se o início do século XX foi marcado por uma forte perspectiva disciplinar, nas várias áreas das ciências, mas especialmente nas ciências humanas, separando-se lingüística de história, história de sociologia, sociologia de psicologia, etc., o século XXI se coloca em outra perspectiva, a da interdisciplinaridade (ou mesmo transdisciplinaridade, como pensava Bakhtin). Desse modo, pretende-se estar aberto para a participação de outras áreas de estudo, educação, literatura, filosofia, história, e, por que não, biologia, administração, educação física.
O pensamento bakhtiniano não está fechado em si mesmo; não construiu nenhuma redoma inviolável; ao contrário. Sua busca constante é pelo OUTRO que o singulariza, que o transcende e, por isso, o constitui. Esse OUTRO bakhtiniano, do ponto de vista teórico, não está apenas na lingüística, ou na literatura, ou nas ciências humanas. Está no Homem, em todas as suas manifestações discursivas, científicas, artísticas, ou mesmo familiares. O Homem e seus atos. Isso é o que interessa a Bakhtin. E a linguagem cria um espaço de constituição dos sujeitos a partir de seus atos.  
HORIZONTES FUTUROS
- Reuniões mensais do grupo (acompanhamento das atividades; discussão de textos; etc.);
- Criação e Manutenção de Redes Sociais em torno do grupo (blog, Facebook, Twiter, site...);
- Realização de seminários, colóquios, palestras, exibição e discussão de filmes, e demais atividades acadêmicas afins;
- Publicação de artigos, ensaios, resenhas, individual e coletivamente, em nome do grupo;
- Participação em eventos.